A RIQUEZA DA ICONOGRAFIA FRANCISCANA – 39
Clara de Assis e o ostensório - II
Surpreendidas no claustro, as Irmãs não têm muito para onde se esconder porque o Mosteiro é pequeno. Então correm para junto da Mãe Clara. O medo e a angústia tomam conta das Irmãs, menos de Clara. A Irmã e Mãe de Assis, Clara está imperturbável na sua confiança e fé. Mesmo doente em seu leito, levanta-se decidida. Ainda frágil fisicamente se apoia em suas Irmãs, e vai em direção ao claustro e pede que tragam um pequeno Cofre, uma espécie de Caixa muito especial onde estão as Hóstias Consagradas, a presença sacramental do Santíssimo Corpo de Senhor Jesus Cristo. Se eles querem saquear tesouros, ali está o único Tesouro que possuem: o Esposo!
Clara e as Irmãs se colocam em profunda oração diante do Cofre Sagrado. Elas entregaram a vida ao Esposo sacramentado e crucificado, Ele não vai deixar de defender as suas vidas. Cruz é a dor do momento que grita por salvação; a Eucaristia é a força do instante que alimenta de certeza, confiança e fé na vida. Encarnação e Paixão se unem na hora da tribulação. Não era ainda usual e nem existia naquele tempo o Ostensório; mas a Caixa empunhada por Clara tem o maior Tesouro que se podia conhecer. Tranquilizadas pela paz que brotava de Clara as Irmãs a rodeiam e juntas vão ao encontro dos soldados que estão no claustro. E ela pede as Irmãs que caso os soldados avancem que a coloquem diante delas e em frente a eles. Quando os soldados veem aquela mulher e suas Irmãs se aproximarem com serenidade são tomados de grande surpresa. Há coragem e tranquilidade. Há uma energia de fé no lugar. Eles pensam que se a fé desta mulher é tão grande, como derrotá-la? Se elas não têm nada por viverem em extrema Pobreza, o que teriam para tirar dali? A pureza que transparece em cada uma delas revela a beleza que está além do humano, então, como violar corpos que revelam totalmente o Espírito? E de um modo misterioso, sem nunca sabermos o motivo de um modo verbalizado, eles se retiram; somem do claustro, vão embora de São Damião e levantam o acampamento e deixam o cerco de Assis. Nada foi roubado ou danificado; nenhuma Irmã foi tocada pelas mãos dos soldados. Clara mostrou para eles o Espelho que refletia a luz de cada Irmã. Depois que foram embora, Clara pediu que as Irmãs não contassem este fato para ninguém. Por isso nos não temos muito detalhes a não ser o depoimento das Irmãs no Processo de Canonização, vejamos o depoimento de uma delas:
“Irmã Francisca de Messer Capitaneo de Col de Mezzo, monja do Mosteiro de São Damião, fez o juramento e disse: Que a testemunha esteve no mosteiro por vinte e um anos e mais um pouco (...). Interrogada sobre o que viu, ela respondeu que uma vez tendo os sarracenos entrado no claustro do mosteiro, a senhora pediu que a carregassem até a porta do refeitório e pusessem diante dela uma caixinha onde estava o santo Sacramento do Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Prostrou-se por terra em oração e orou com lágrimas, dizendo estas palavras entre outras: “Senhor, guardai Vós estas Vossas servas, porque eu não as posso guardar”. Então a testemunha ouviu uma voz de maravilhosa suavidade que dizia: “Eu te defenderei para sempre!” Então a senhora orou também pela cidade, dizendo: “Senhor, que Vos apraze também defender a esta Vossa cidade”. A mesma voz soou: “A cidade sofrerá muitos perigos, mas será defendida”. Então a senhora se voltou para as Irmãs e lhes disse: “Não fiquem com medo, porque eu sou a sua garantia de que não vão passar nenhum mal, nem agora e nem no futuro, enquanto se dispuserem a obedecer aos mandamentos de Deus”. Os sarracenos foram embora sem fazer mal ou causar prejuízo.” (Processo de Canonização, 9ª Testemunha).
CONTINUA
FREI VITORIO MAZZUCO
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