A RIQUEZA DA ICONOGRAFIA FRANCISCANA - 24



O VIOLINO DE FRANCISCO - final

Francisco, através de seu violino de pau, nos convida a repensar nossa forma de nos relacionarmos com Deus, nossa linguagem, nossas orações, nossos excessos de rubricas. O violino de Francisco se coloca numa alternativa para vivermos a liturgia cristã, que como o próprio Jesus, deve ser simples, expressão de um Deus que se fez Carne, que se fez Pobre entre nós. A liturgia de Francisco, cujo violino de pau é o símbolo mais visível, é a liturgia da liberdade dos filhos e filhas de Deus; é a liturgia da vida que flui fora dos grandes e eruditos teatros, e que tem como objetivo primeiro, fazer chegar aos corações do povo faminto de Deus a sua Palavra que é a Boa Nova que liberta, cura e transforma. Palavra que restaura a imagem de Deus, deformada pelo processo de desumanização pela qual a comunidade cristã também é vítima.

Francisco era um pregador e como tal usou de todos os meios para falar de Jesus, para semear Jesus nos corações, até mesmo um pedaço de pau. Quando olhamos para o violino de Francisco de Assis começamos a entender que nossos violinos precisam ser reformados e afinados com linguagem mais simples, que permita às pessoas ouvir a sinfonia do Deus Amor que quer chegar aos ouvidos humanos. Esses violinos somos nós. Esse violino é a Igreja. E Deus precisa desse violino. Deus precisa de todos os violinos que ressoem a sua Boa Nova da gratuidade”.

O ícone do violino de Francisco nos acorda para algo necessário: leveza no nosso modo de orar, pregar e viver as coisas de Deus. Há muito grito nos sermões e louvores. Precisamos mais de suavidade e silêncio que nos oferecem o amor de Deus como uma bênção. Às vezes, as nossas adorações são tão barulhentas que nos assustam e não revelam intimidade. O violino é um silencioso modo de dizer fortemente a verdade de uma Presença. No louvor temos que ser desprendidos e naturais e não forçar palavras que não penetram nos tecidos da alma. A Judite, da OFS de São José dos Campos, nos brinda com estes versos:

“O doce sentir de Francisco ao tocar com duas varetas o seu violino! Era santo ou louco? Era anjo ou menino? Sabe-se pouco deste sagrado instante. Que, como ele, estejamos na escuta do mesmo som divino! Pai, reveste-nos da sua humildade, ternura, mansidão seguros pelas suas mãos. Ensina-nos a envolver-nos com o irmão levando a ele a Paz e Bem! Luz, ensina-nos a ser !”
                                                                                      
O ícone do violino nos remete ao natural; quando a gente se torna anti-natural, os gritos religiosos tornam-se necessários. Jesus não pode ser dado de um modo forçado. As melodias trazidas pelo violino são transformadas numa concentração em meio a ruídos, como a nos dizer, tudo é bom, tudo é belo, tudo é sagrado; e tudo isto acontece de um modo espontâneo para vibrar em nós as cordas e acordes de nossa Vida Interior! São Francisco de Assis, toca para nós! Faz soar em nós o som de Deus, o som do eu e de todos, o som de todos os seres que estão em toda Comunidade de Vida!

FREI VITORIO MAZZUCO

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