FRANCISCO DE ASSIS E O SULTÃO - 3



O GRANDE COMBATE DE FRANCISCO DE ASSIS



São Boaventura, na sua Legenda Maior, escreve: “Havia um homem na cidade de Assis, de nome Francisco, cuja memória é abençoada” (LM 1,1). Uma vida abençoada tem sinais de forças que vem do alto, e de pé fincado na realidade. O reconstrutor da casa é também um destruidor, um destruidor de barreiras, de muros, de preconceitos. Na sua juventude militou na vida boêmia com seus amigos de taberna, cantou canções de gestas da cavalaria; do trabalho na loja do pai para as festas nas praças da cidade, viveu a corrente democrática de sua cidade.

Tinha 16 anos quando uma guerra interna em Assis fez sucumbir a Rocca Maggiore, a grande fortaleza, que soberana protegia a cidade e vigiava os movimentos no vale e nas montanhas próximas. Francisco estava lá, numa luta entre nobres e plebeus. Há fronteiras humanas que precisam ser demolidas para que não aconteçam conflitos. Tempos depois ele está reconstruindo São Damião que estava em ruínas abrigando ali uma história largada e abandonada de leprosos colocados entre os escombros. Francisco não chega ali como um membro de um clube filantrópico. Chega sozinho como pedreiro. Colocar pedra sobre pedra não é difícil; desafiador é reconstruir o lugar com pedras vivas. Junto com a aventura espiritual pessoal, está a aventura de ser compreendido ou não, pelo fato de ter escolhido arrumar um teto para as vítimas consumidas pela lepra.

Francisco, em 1202, experimentou a derrota, a prisão e a doença quando lutou e perdeu a guerra para Perugia. É preciso demolir os horrores do cárcere para não ser mais o mesmo e sair da prisão com ideais a serem realizados, feliz e livre. Não se sentir preso nas derrotas é abrir um futuro de sonhos e obras em pé. Na prisão de Perugia, Francisco de Assis travou uma luta entre os sonhos de uma vida militar, do ideal cavalheiresco, com a vontade de seguir as pegadas do Senhor. Esta luta é grande.

Entre 1205 e 1206, Francisco de Assis fez uma viagem (1205) à Puglia para se fazer cavaleiro nas tropas pontifícias de Gautier de Brienne, um conde guerreiro, que andava a serviço do papa e a serviço da guerra de conquista, para impedir avanços de Frederico II, o Barbaroxa. Dá para servir a Igreja lutando ao lado de Gauthier? Seu pai, Pedro de Bernardone acreditava que sim e arma o filho de tudo o que é necessário para que ele fosse um conquistador. Difícil é demolir o orgulho de um pai que sonha com a glória de seu filho. Servir a um ideal maior ou ao orgulho do pai? Decifrar o sonho de uma sala cheia de armas ou a alegria de ser apenas o servo do Senhor? Ir para além do vale de Spoleto ou voltar para Assis. A vida é sempre um combate de decisões. Está entre uma escolha: conquistar a glória pelo caminho das armas, ou vencer por um grande amor à todas as criaturas. O Cristo que ele vai encontrar em São Damião está em pé em meio a paredes caídas.

Imagem: Rocca Maggiore, a grande fortaleza de Assis.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO

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