CLARA DE ASSIS E A VIDA EM SÃO DAMIÃO


A mais pura fonte do franciscanismo


Desde que Clara foi viver em São Damião com suas irmãs de sangue que se tornaram também suas Irmãs de claustro, reverteram o peso estrutural do cargo de mando. Clara não queria ser Abadessa, mas a Irmã e Mãe da nova comunidade, que tem uma vida monástica com forte acento na fraternidade. Dividem o tempo de oração e o tempo dos cuidados fraternos, a Liturgia das Horas atravessando longo espaço das horas, as vigílias diante do Amado, muito tempo para a oração e meditação pessoal, a Palavra transformadora atravessando o coração.

Os frades moram próximo as Irmãs e pedem esmolas para não deixar faltar nada para elas. Em Assis ainda paira um desconfiança e um espanto quanto aquelas mulheres nobres vivendo o jeito daqueles maltrapilhos. Não ter nada faz sobrar mais tempo para ter o Tudo. Cuidam do manancial mais forte da inspiração: a Cruz de São Damião, e tornam-se aos poucos a maior e mais pura fonte do franciscanismo. A opção por serem radicalmente pobres é uma opção de classe feita com muita classe: o Esposo é pobre e ama ser pobre entre os pobres. A Pobreza gera abandono, liberdade e extrema confiança.

Há pobres morando fora das muralhas de Assis. Esta porção do povo que vive na miséria bate às portas do mosteiro e recebem a partilha do pouco que as Irmãs podem dar, mas o Amor faz grande o pouco que elas podem repartir. “A atitude do pobre, que tudo espera do Pai, é acompanhada estreitamente pela solidariedade típica do povo, que leva a viver juntas como irmãs no Espírito, que é o pai dos pobres e ao mesmo tempo continua a derramar o Amor nos corações. O ter de inventar o próprio estilo de vida, dia após dia, leva a dedicar a maior parte de tempo possível à oração silenciosa, porque apenas o diálogo com Aquele que estas mulheres apaixonadamente querem seguir pode conduzi-las a fazer as suas opções segundo o Evangelho. Mas o estar juntas, o ser Irmãs, para quem basta um olhar, uma mão estendida para ajudar a segurar um peso, constrói-se também no diálogo” (Cremaschi,63).

Clara organiza com as Irmãs o Capítulo Semanal, fruto deste diálogo contínuo. No Capítulo, a partilha da Palavra que lida, escutada torna-se vida. A vida austera traz dificuldades pessoais e evidencia fraquezas. O Capítulo é ajuda fraterna para estas fraquezas. Elas não tem uma forte estrutura, mas uma calorosa convivência. A vida se ajeita na comunhão fraterna. “O calor humano, apoiado num conhecimento pessoal que tem os traços de uma verdadeira amizade no Espírito, cria um clima familiar em que o único Amor transborda no afeto e na doação recíproca” (Cremaschi,63).

No dia a dia as Irmãs trabalham na horta, tecem, bordam, fiam, fazendo do trabalha artesanal também um estilo de vida. Vigílias e jejuns alimentam a vida mística. A atitude penitente mantém a contínua conversão. A maior batalha é contra o egoísmo. O domínio do corpo é envolver o corpo na oração, no trabalho e no contínuo cuidado das Irmãs, esta entrega que só quem ama pode compreender.

Por Deus ser a prioridade da Fraternidade é Ele eu faz crescer o número de Irmãs. Há um novo estilo de vida abraçado por estas mulheres. Há a segurança que é uma vida fundamentada no Evangelho. Não usam a palavra Regra, mas Forma de Vida. “Compreende-se então por que não são necessárias muitas prescrições detalhadas: a caridade que circula entre as Irmãs, e portanto o Espírito que as anima, encarregar-se-á de indicar as modalidades concretas de que Clara é o instrumento visível e Francisco o sustento e a ajuda na contínua abertura ao desígnio de Deus” (Cremaschi,72).

FREI VITORIO MAZZUCO

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