FRANCISCO DE ASSIS: MEDITAÇÃO E ORAÇÃO – 2


Para meditar com Francisco de Assis é preciso mergulhar sem cessar e demorar-se bastante neste atributo divino: Deus é bom! E aqui voltamos novamente a Frei Constantino Koser, OFM: “Três letras apenas, mas que envolvem em si e evocam para Francisco toda a imensidade de mistérios sublimes e suaves, o seu Deus. O mais indefinível de todos os termos, o mais pleno de conteúdo, o de maior alcance, o mais divino, o mais semelhante ao próprio Deus Uno e Trino: Deus é bom. “Só Deus é bom” (Lc 18,19). “Deus caritas est”” (1Jo 4,16) (O Pensamento Franciscano, p.16).

“O Deus Uno e Trino no princípio parece um deserto, não porque o seja, mas porque a alma é incapaz de entender e de o amar. Aos poucos, à medida que o cavalheirismo, amparado e sobrenaturalizado pela graça divina, invadir o que parece deserto, ver-se-ão as flores, os encantos, a doçura, ver-se-á Deus Pai, Filho e Espírito Santo a abraçar divinamente suas criaturas, assemelhando-as mais e mais a Si mesmo em suavidade e bondade indizível. O conhecimento de Deus não dará trégua ao amor de Deus, e o amor de Deus não dará trégua ao conhecimento de Deus, estimulando a inteligência na busca do conhecimento cada vez mais profundo. Na medida em que aprofunda o conhecimento amoroso de Deus, nesta medida se conquista para Deus. Mas para que seja franciscano o modo de conhecer a Deus, é preciso que de fato o amor seja o incentivo da inteligência, o motivo e o estímulo de todas as horas e de todos os esforços” (O Pensamento Franciscano, p. 17).

Ao meditar o amor de Deus desafiava o amor: exigia insistentemente a resposta do amor. Sublime vocação das criaturas, de poderem amar a Deus. Privilégio excelso dos cavaleiros de Deus, de o poderem amar tão singularmente. Neste sentido, Francisco de Assis deu exemplo nas formas mais acabadas, mais completas, mais ardentes e mais sublimes. Clamava amargurado e feliz ao mesmo tempo pelo desejo desta felicidade do Amor: “É preciso amar muito a o Amor daquele que muito nos amou” (2Cel 196). Esta atitude radical de resposta de amor ao amor, ele expressou na Regra Não Bulada, capítulo 23: “Amemos todos de todo coração, de toda mente, e fortaleza, e com toda a inteligência, com todas as forças, com topo empenho, com todo afeto, do íntimo da alma, com todo o desejo e vontade ao Senhor Deus. Criou-nos e nos remiu, salvou-nos em pura misericórdia, cumulou-nos a nós (...) ingratos e tolos e maus, com todos os bens, e continua a cumular-nos. Nada pois, desejemos, nada queiramos, nada nos agrade ou alegre, a não ser o Criador, Redentor e Salvador nosso, o Deus único e verdadeiro que é o bem todo e verdadeiro, o supremo bem, o único bem.  É misericordioso e meigo e doce; Ele só é santo, justo, verdadeiro e reto; Ele só é benigno, inocente e casto; Ele de quem e por quem e em quem está todo perdão, toda graça, toda glória, de todos os penitentes e justos, de todos os santos que no céu conjuntamente se alegram. Quem nos dera que nós todos, em toda parte, em toda hora e em todos os tempos, todos os dias e continuamente creiamos, louvemos, bendigamos, glorifiquemos e sobreexaltemos; engrandeçamos e rendamos graças ao Deus Altíssimo e Supremo e Eterno, à Trindade e Unidade, ao Pai e ao Filho, ao Espírito Santo, ao Criador de todos. Para todos os que nele creem e nele esperam e o amam, é Ele sem princípio e sem fim, imutável, invisível, inenarrável, inefável, incompreensível, ininvestigável, bendito, louvável, glorioso, sobreexaltado, sublime e excelso, suave, amável, deleitoso e todo desejável mais que todas as coisas por todos os séculos sem fim. Amém”.

A meditação e oração em Francisco de Assis são palavras que jorram abundantemente do manancial de sua alma.

CONTINUA

FREI VITÓRIO MAZZUCO

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