São Luís de França e os Franciscanos - XVI
Frei Sandro Roberto da
Costa, ofm
3.3
Um encontro de Luís com os frades
Frei Salimbene
de Parma, cronista medieval, é o responsável pela descrição de um dos mais
belos quadros de convivência do rei Luís com os franciscanos. Salimbene
viajou a Sens, na França, para participar do Capítulo Geral. Além das autoridades
da Ordem, como o Ministro Geral João de Parma, chega ao local o rei da França, dirigindo-se
em peregrinação para a cruzada. Salimbene descreve a cena da chegada do rei.
Povo e religiosos se aglomeram à espera da chegada do rei. Em meio à multidão,
perdido, porque se atrasara e os outros frades já tinham ido ao encontro do
rei, encontra-se o franciscano Eudes de Rigaud, arcebispo de Rouen, que, mitra
na cabeça e cajado à mão, gritava: “Onde está o rei? Onde está o rei?”. Salimbene
passa a descrever o rei: “O rei era esbelto e delicado, magro e alto, tendo um
rosto angelical e face simpática. E vinha à igreja dos Frades menores não na
pompa régia, mas no hábito de peregrino, tendo uma sacola e bordão de peregrinação
ao pescoço que decoravam muito bem as espáduas do rei. E vinha não a cavalo,
mas a pé; e os seus irmãos de sangue, que eram três condes, [...] seguiam-no em
semelhante humildade e hábito. [...] Na verdade, parecia mais um monge, quanto
à devoção do coração, do que um cavaleiro, quanto às armas de guerra. E assim,
entrando na igreja dos irmãos, tendo feito a genuflexão mui devotamente diante
do altar, rezou. [...] Em seguida, o rei disse, com voz bem clara que ninguém
entrasse na sala do Capítulo, a não ser os cavaleiros, exceto os irmãos, aos
quais ele queria falar. E quando estávamos reunidos no Capítulo, o rei começou
a relatar seus atos, recomendando-se a si mesmo, aos irmãos e a rainha sua mãe,
e toda sua comitiva; e, fazendo genuflexão com muita devoção, pediu as orações
e os sufrágios dos irmãos”[53].
Frei João de Parma tomou a
palavra e prometeu as orações da Ordem, devendo cada padre celebrar quatro
missas pelo rei. Após o encontro, seguiu-se um lauto banquete, tudo às expensas
do rei. Frei João de Parma, embora tendo lugar reservado ao lado do rei,
preferiu sentar-se com os mais pobres[54].
No dia seguinte o rei retomou seu caminho em direção ao
porto que o levaria para a Terra Santa. Mas ainda faria vários desvios, para
visitar os eremitérios franciscanos pelo caminho, onde se punha em oração. De
novo é frei Salimbene quem nos descreve uma destas visitas. Em Vézelay, no dia
21 de junho de 1248, o rei e seus três irmãos dirigiram-se ao convento dos
frades, modesto e recém-construído. Entraram na igreja e, embora os frades lhes
oferecessem bancos e cadeiras, o rei se senta no chão, na poeira, já que o piso
da igreja ainda não estava pavimentado. Sentados todos no chão, em círculo em
volta do rei, este lhes dirige a palavra e se recomenda às suas orações[55].
[53] Fontes
Franciscanas e Clarianas, 2004, Crônica de Frei Salimbene de Adam (de Parma),
o.c., p. 1402.
[54] João de Parma também era fautor
da ala reformista dos joaquimitas. São Boaventura foi seu sucessor, que o
processou e condenou à prisão perpétua.
A proximidade dos soberanos franceses com os franciscanos espirituais
vai continuar após a morte de Luís. Já citamos aqui São Luís de Toulose,
sobrinho de Luís. Ele e seus irmãos tiveram como preceptor frei Pedro de João
Olivi, um dos maiores expoentes da corrente dos Espirituais.
[55] Carolus-Barré,
Louis. Le Procès de canonisation de Saint
Louis (1272-1297). Essai de reconstitution. Rome: École Française de Rome,
1994, p. 295, (Publications de l'École française de Rome, 195). http://www.persee.fr/web/ouvrages/home/prescript/monographie/efr_0000-0000_1994_edc_195_1 . Descrição também em Le Goff, São Luís, 401-402.
Continua
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