A NOVA VIDA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS, DE TOMÁS DE CELANO - II

 


DESCOBERTA POR JACQUES DALARUN 


Jacques Dalarun acredita que a Nova Vida “é, em absoluto, a segunda Legenda jamais escrita sobre Francisco de Assis e prova que o “o corpus das legendas franciscanas” ainda não está completo e jamais vai terminar o tempo de descobrir novos textos. A Nova Vida traz muitos textos inéditos, resume a Vida Primeira de Tomás de Celano; traz nova luz sobre a genealogia das Legendas Franciscanas e reaquece o rico debate da Questão Franciscana. Este debate questiona a parcialidade de Tomás de Celano em que a Questão Franciscana traz à tona ao dizer que ele escreve a pedido do Papa Gregório IX, em função da canonização de Francisco de Assis. A Nova Vida confirma que foi Frei Elias que pede a Tomás de Celano para escrever a Vida Primeira, mesmo a pedido do Papa, e é Frei Elias que orienta Tomás de Celano. A Vida de Francisco é uma questão interna da Ordem, ampliar as Legendas e ou sintetizá-las é sempre uma decisão Capitular.

As Legendas breves estão em função do ofício litúrgico, portanto rezar a vida e transformar a vida em motivo modelar de virtudes e inspiração; isto também dá sentido ao modo orante. Escreve Celano: “Tu me pediste, frater benedicte, para extrair elementos da Legenda de nosso bem-aventurado Pai Francisco e ordená-los em uma série de nove leituras, de modo a que elas fossem inseridas nos breviários: em razão de sua brevidade, todos poderiam, então, tê-las”.

O que Dalarun chama de novo nesta obra?  Que ela é anterior a Vida Primeira escrita em 1228. Ela traz 71 milagres com 33 novos milagres acrescentados aos já conhecidos; amplia a importância dos milagres para a vida do Santo. Diz Dalarun: “Um milagre que se produz após a morte de um santo e graças à sua intervenção é de fato a prova da atualidade de sua santidade, da resistência de sua fama à passagem do tempo, de sua potência presente e sempre eficaz, ativa e atual”. Para ele, a Nova Vida é uma atualização da Vida Primeira.

Destaca a Pobreza de Francisco. Argumenta com a vestimenta de Francisco que se veste assim “motivado pelo desejo de estar em conformidade com todos os pobres”. Diz que Francisco chega a Roma “caminhando com mercadores” e não em peregrinação.  Ele ainda está envolvido no mundo secular, portanto, vai em viagem de negócios. Fica impactado com a pobreza que encontra ao lado da basílica de São Pedro. Quer sentir as vestes e a fome dos pobres. A Nova Vida, ao detalhar a relação com a Pobreza põe em xeque os frades já bem instalados em conventos a partir de 1232, tem uma visão mais intelectual da Pobreza e não real. Diz Dalarun: “as evoluções da Ordem lhes pareceram uma traição da mensagem recebida do mestre em palavras e, mais ainda, em atos”.

A Nova Vida destaca sua relação com as criaturas numa experiência de irmandade. Acamado em São Damião amplia seu olhar sobre os elementos da natureza.  E Dalarun aprofunda a dimensão Fraterna lembrando em seus comentários introdutórios: “Francisco não se fechou no idêntico. Irmãos, ele tinha pelo sangue: os outros filhos de Pedro Bernardone. Ele se afastou voluntariamente e, em resposta, foi renegado pelos seus. Amigos, ele tinha pela terra: os concidadãos de Assis com os quais dividira a louca juventude. Críticos, estes passaram a atirar-lhe lama e pedras. Em compensação, uma calorosa fraternidade de coração se formara em torno dele, uma família espiritual, eletiva, logo transformada na Ordem dos Frades Menores”. 

FREI VITORIO MAZZUCO

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