ESPIRITUALIDADE PARA UMA VIDA VIRTUOSA - FINAL

Para encerrar esta série de reflexões sobre Espiritualidade, gostaria de transcrever um texto. Lembro de uma música de Milton Nascimento cuja letra diz assim: “Certas canções que ouço/ cabem bem dentro de mim/ Que perguntar carece/ Como não fui eu que fiz?” Pois é... gostaria de ter escrito este texto que transcrevo em seguida. Ele não quer ser uma contraposição à Religião, nem é uma crítica a Religião, mas sim é a confirmação de que as religiões precisam da Espiritualidade e da Mística.


DIFERENÇAS ENTRE RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE

Religião não é apenas uma, são centenas de instituições.
Espiritualidade é apenas uma – uma percepção, uma sensibilidade.
Religião é para os que ainda dormem. Espiritualidade é para os que despertam.
Religião é para aqueles que necessitam que lhes diga o que fazer, que ainda necessitam de ser guiados.
Espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior.
Religião tem um conjunto de regras dogmáticas
Espiritualidade te convida a raciocinar sobre tudo.
Religião não indaga, nem questiona.
Espiritualidade questiona tudo.
Religião cria dogmas. Espiritualidade descobre.
Religião pode impor, ameaçar, amedrontar.
Espiritualidade te dá Paz Interior.
Religião fala de pecado, de demônio e de culpa.
Espiritualidade te diz: aprende com o erro.
Religião reprime, pode te fazer falso.
Espiritualidade transcende e te faz verdadeiro!
Religião institucional nem sempre é Deus, é meio.
Espiritualidade é Tudo e, portanto, é Deus.
Religião é humana, é uma organização com regras.
Espiritualidade é Divina, com princípios naturais.
Religião é causa de divisões. Espiritualidade é fator de união.
Religião te busca para que nela acredites. Espiritualidade – tu tens que buscá-la.
Religião segue os preceitos de um livro sagrado. Espiritualidade busca o sagrado em todos os livros
Religião se alimenta da anti-crítica, da consciência pesada, dos clichês mentais do medo.
Espiritualidade se alimenta da Confiança e da Fé.
Religião faz viver restrito ao pensamento estereotipado.
Espiritualidade faz Viver na Consciência
Religião se ocupa com parecer, conforme modelo.
Espiritualidade se ocupa em Ser.
Religião alimenta ego. Espiritualidade nos faz transcender nosso ego.
Religião nos leva a renunciar ao mundo, independente do que é bom ou mal, natural ou artificial.
Espiritualidade nos faz viver a Obra de Deus, não renunciar a Ela.
Religião é adoração. Espiritualidade é meditação.
Religião sonha com glória e com paraíso idealizados.
Espiritualidade nos faz viver a gloria e o paraíso aqui e agora.
Religião vive no passado e no futuro.
Espiritualidade vive o presente.
Religião enclausura nossa mente e coração.
Espiritualidade liberta nossa consciência e sentimento.
Religião fala de vida eterna como recompensa.
Espiritualidade nos faz consciente da Vida, agora e no futuro.
Religião promete para depois da morte...
Espiritualidade é, transcendendo o fenômeno natural da morte, encontrar Deus em nosso interior, desde já.

Prof. Dr. Guido Nunes Lopes

Outro texto sobre o mesmo tema, que transcrevo:


ESPIRITUALIDADE E RELIGIÃO   

Frei Betto

Espiritualidade e religião se  complementam mas não se confundem. A espiritualidade existe desde que o ser  humano irrompeu na natureza, há mais de 200 mil anos. As religiões são  recentes, não ultrapassam 8 mil anos de existência.

A religião  é a institucionalização da espiritualidade, assim como a família é do amor. Há  relações amorosas sem constituir família. Do mesmo modo, há quem cultive sua  espiritualidade sem se identificar com uma religião. Há inclusive  espiritualidade institucionalizada sem ser religião, como é o caso do budismo,  uma filosofia de vida.

As religiões, em princípio, deveriam ser  fontes e expressões de espiritualidades. Nem sempre isso ocorre. Em geral, a  religião se apresenta como um catálogo de regras, crenças e proibições,  enquanto a espiritualidade é livre e criativa. Na religião, predomina a voz  exterior, da autoridade religiosa. Na espiritualidade, a voz interior, o  “toque” divino.

A religião é uma instituição; a espiritualidade,  uma vivência. Na religião há disputa de poder, hierarquia, excomunhões e  acusações de heresia. Na espiritualidade predominam a disposição de serviço, a  tolerância para com a crença (ou a descrença) alheia, a sabedoria de não  transformar o diferente em divergente.

A religião culpabiliza; a  espiritualidade induz a aprender com o erro. A religião ameaça; a  espiritualidade encoraja. A religião reforça o medo; a espiritualidade, a  confiança. A religião traz respostas; a espiritualidade suscita perguntas. As  religiões são causas de divisões e guerras; as espiritualidades, de  aproximação e respeito.

Na religião se crê; na espiritualidade se  vivencia. A religião nutre o ego, pois uma se considera melhor que a outra. A  espiritualidade transcende o ego e valoriza todas as religiões que promovem a  vida e o bem.

A religião provoca devoção; a espiritualidade,  meditação. A religião promete a vida eterna; a espiritualidade a antecipa. Na  religião, Deus, por vezes, é apenas um conceito; na espiritualidade, uma  experiência inefável.

Há fiéis que fazem de sua religião um fim e se  dedicam de corpo e alma a ela. Ora, toda religião, como sugere a etimologia da  palavra (religar), é um meio para amar o próximo, a natureza e a Deus. Uma  religião que não suscita amorosidade, compaixão, cuidado do meio ambiente e  alegria, serve para ser lançada ao fogo. É como flor de plástico, linda, mas  sem vida.

Há que tomar cuidado para não jogar fora a criança com a água  da bacia. O desafio é reduzir a distância entre religião e espiritualidade, e  precaver-se para não abraçar uma religião vazia de espiritualidade nem uma  espiritualidade solipsista, indiferente às religiões.

Há que fazer das  religiões fontes de espiritualidade, de prática do amor e da justiça, de  compaixão e serviço. Jesus é o exemplo de quem rompe com a religião  esclerosada de seu tempo, e vivencia e anuncia uma nova espiritualidade,  alimentada na vida comunitária, centrada na atitude amorosa, na intimidade com  Deus, na justiça aos pobres, no perdão. Dessa espiritualidade resultou o  cristianismo.

Há teólogos que defendem que o cristianismo deveria ser  um movimento de seguidores de Jesus, e não uma religião tão hierarquizada e  cuja estrutura de poder suga parte considerável de sua energia  espiritual.

O fiel que pratica todos os ritos de sua religião, acata os  mandamentos e paga o dízimo e, no entanto, é intolerante com quem não pensa ou  crê como ele, pode ser um ótimo religioso, mas carece de espiritualidade. É  como uma família desprovida de amor.

O apóstolo Paulo descreve  magistralmente o que é espiritualidade no capítulo 13 da Primeira Carta aos  Coríntios. E Jesus a exemplifica na parábola do Bom Samaritano  (Lucas 10, 25-37) e faz uma crítica mordaz à religião em Mateus  23.

A espiritualidade deveria ser a porta de entrada das religiões.  Antes de pertencer a uma Igreja ou a uma determinada confissão religiosa,  melhor propiciar ao interessado a experiência de Deus, que consiste em se  abrir ao Mistério, aprender a orar e meditar, penetrar o sentido dos textos  sagrados.

Frei Betto é escritor, autor de Um homem chamado  Jesus (Rocco), entre outros livros.  


Comentários

Livia Gregorin disse…
Que textos esplêndidos!
Sou Espírita e encantada com a vida de Francisco de Assis e, pesquisando sobre a Ordem dos Franciscanos nos dias atuais, encontrei este blog.
Certamente passarei para ler as atualizações!
Independente da religião que escolhemos, o importante é amarmos a Deus e ao próximo (o que implica em ter respeito).
Parabéns!
Ronaldo disse…
Lívia, talvez você gostará também do livro O Mundo Invisível do cardeal Alexis Lépicier. Imperdível aos Espíritas!